domingo, 20 de setembro de 2009

Pôr-do-ser

E as lágrimas não mais molhavam sua face. De bruços, molhava o travesseiro, de suor. Sua pele, ignorando riscos, insistia em tornar-se mais e mais quente. Sua mente forçava rendição, e testava sua vontade. A visão, embaçada, conseguia ainda perceber as cores e formas, mas não os detalhes. E foi assim que percebeu, que detalhes são mesmo detalhes, afinal. Sem conseguir ler as pequenas letras minuciosamente escritas a mão, tratou de lembrar o que aquele amontoado de letras realmente queria dizer, e não as palavras que formava.

Decidiu deixar a luz acesa, por mais que não pudesse realmente vê-la. Caso não mais voltasse a abrir os olhos, deixara ali seu último desejo, sua última descoberta, e última mensagem.

O relógio marcava a hora certa, pelos motivos certos. E então, num último suspiro, apagou.

Acordou pela manhã para admirar a beleza de uma luz maior lá fora que, solitária, mas radiante, mostrava que o dia só se torna noite, para que a noite possa virar dia, e possamos assistir a este espetáculo matinal do regresso.

Rubem Alves, Eu, e o amor.

"Gosto da palavra 'amantes'. Amantes são aqueles que se amam. Os amantes, separados pela distância, sentem saudades... Alegram-se com a memória do rosto da pessoa amada." - Rubem Alves

É difícil dizer que se ama, é difícil dizer a um alguém o quanto gostamos dele. Talvez seja pois o amor é algo que não se possui, jamais. Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. Quando ele volta, volta com ele a alegria. E vemos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro. É difícil contar a alguém que ele tem livre arbítrio sobre nossa felicidade.




"O apaixonado sofre menos com a morte da pessoa amada que com sua partida para um novo amor. A morte torna eterno o amor. Ela fixa, para sempre, a bela cena. A partida, ao contrário, a destrói." - Rubem Alves

Gostaria de ter certeza do que há após a morte, para saber se concordo ou não com isso... Há momentos nos quais acredito que não preferiria a eternidade solitária do amor perdido para sempre, se possível viver, mesmo em dor, a presença passageira do amor perdido para sempre em vida.