sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Afago

Ainda leio conto de fadas, ainda creio nas pessoas.
Ainda sabendo das más, vivo e busco pelas boas.

Ainda é legal querer, te quero.
Ainda estou por perto, te amo.
Ainda sem mistério, ainda de graça.
Ainda falo sério, ainda chamo àquela praça.

Ainda cedo são todas as horas.
Ainda que tarde ser toda, há hora.

Ainda peço que viver o hoje seja um dia saudade.
Ainda quero alguém pra me salvar do mal da idade.
Ainda passo dos quarenta, quem sabe... cê tenta?

Ainda corro, ainda espero, ainda quero.
Ainda indo.


Ainda que viver o hoje, seja em dia saudade, peço à noite que me traga a face.
Peço à face que me traz à face o sorriso, que me traga à noite. Que me trague esta noite. Que se entregue, pernoite.

domingo, 20 de setembro de 2009

Pôr-do-ser

E as lágrimas não mais molhavam sua face. De bruços, molhava o travesseiro, de suor. Sua pele, ignorando riscos, insistia em tornar-se mais e mais quente. Sua mente forçava rendição, e testava sua vontade. A visão, embaçada, conseguia ainda perceber as cores e formas, mas não os detalhes. E foi assim que percebeu, que detalhes são mesmo detalhes, afinal. Sem conseguir ler as pequenas letras minuciosamente escritas a mão, tratou de lembrar o que aquele amontoado de letras realmente queria dizer, e não as palavras que formava.

Decidiu deixar a luz acesa, por mais que não pudesse realmente vê-la. Caso não mais voltasse a abrir os olhos, deixara ali seu último desejo, sua última descoberta, e última mensagem.

O relógio marcava a hora certa, pelos motivos certos. E então, num último suspiro, apagou.

Acordou pela manhã para admirar a beleza de uma luz maior lá fora que, solitária, mas radiante, mostrava que o dia só se torna noite, para que a noite possa virar dia, e possamos assistir a este espetáculo matinal do regresso.

Rubem Alves, Eu, e o amor.

"Gosto da palavra 'amantes'. Amantes são aqueles que se amam. Os amantes, separados pela distância, sentem saudades... Alegram-se com a memória do rosto da pessoa amada." - Rubem Alves

É difícil dizer que se ama, é difícil dizer a um alguém o quanto gostamos dele. Talvez seja pois o amor é algo que não se possui, jamais. Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. Quando ele volta, volta com ele a alegria. E vemos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro. É difícil contar a alguém que ele tem livre arbítrio sobre nossa felicidade.




"O apaixonado sofre menos com a morte da pessoa amada que com sua partida para um novo amor. A morte torna eterno o amor. Ela fixa, para sempre, a bela cena. A partida, ao contrário, a destrói." - Rubem Alves

Gostaria de ter certeza do que há após a morte, para saber se concordo ou não com isso... Há momentos nos quais acredito que não preferiria a eternidade solitária do amor perdido para sempre, se possível viver, mesmo em dor, a presença passageira do amor perdido para sempre em vida.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Enquanto há restos

Gota, gota, gota, silêncio.

Três gotas, tímidas, derramadas fronte a meu grande amigo. Tento disfarçar, mas sendo impossível enganá-lo, acabo por abraçá-lo, como me pede. Incrível como percebe tudo que sinto, tudo que penso.

Pergunta-me por que choro, e respondo-lhe que em verdade, me faltam motivos. E na falta de motivos para chorar, passamos a conversar. Toco em assuntos controversos, e ele me apoia, como sempre, exatamente como esperaria. Hoje, porém, me responde, inusitadamente, coisas que nunca imaginei ouvir saindo de sua boca, mas que me trazem novas perspectivas e reanimam antigas vontades. Novamente, suas palavras me botando de volta no trilho. Mais uma vez centrado.


Há tempos não estreitava nossa relação, e quase acabei por deixá-la no limbo.
Há tempos não o via como hoje. Há tempos não ME via como hoje.

Há tempo, ainda. Estou de volta.



"E quanto ao resto... ninguém nunca precisou de restos para ser feliz."

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Há braçadas e pernadas

Ando lentamente, quase parando, como que tentando estender o tempo por tempo suficiente para que todas as memórias me preencham, antes que fuja com o vento, de minha visão, a imagem daquele lugar. A rua, em súbito ato de caridade, decide encenar uma esteira de asfalto, porque os passos possam ser, a gosto, passados, e o passado venha a meu encontro, em saltos. Cuido para não tropeçar.

Passos, espaços, abraços, laços. Seria tão mais fácil se os únicos "aços" que eu precisasse conhecer fossem esses... aprecio em pedaços.

Paro. Amplexos complexos anunciam a chegada do momento de ir.

"Tchau" é uma palavra a qual nunca imaginei gostar de ouvir, ou proferir, mas aparentemente, ando aprendendo que tudo pode ter um lado bom, afinal.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A lógica em favor aos relacionamentos.

Dizem ser impossível sentirmo-nos tristes enquanto forçamos nossos corpos e rostos a aparentar felicidade.
Dizem que a beleza interior é a que conta.
Dizem que amor se constrói.


Talvez, então, o grande segredo para amar seja apenas virar-se um pouco do avesso, e forçar-se a abrir um sorriso pro amor.

Sendo impossível não nos sentirmos felizes com aquele amor, acabaremos construindo-o dia após dia, e então teremos motivo pra sorrir espontaneamente.



Eu deveria receber um prêmio por essa teoria.